Por Alfredo Azamor
O exm. sr. dr. d. Luiz de Souza da Silveira, é magistrado inquieto que obriga, de quando em quando, aos que sabem amar a patria, a dizer d'elle algum bem - bem felizmente.
E digo - porque o amo, porque é um republicano insuspeito, dos tempos de propaganda; porque é um verdadeiro fidalgo tanto pela indole de seus maiores como pelos titulos com que as vaidades mundanas o veneram, como por seus sentimentos altruisticos, verdadeiramente christãos.
E hoje tenho que combater, infelizmente, uma de suas importantes propostos, que fez como digno juiz de paz, honrado membro da Assembléa Municipal de Nictheroy.
Propoz elle, na ultimo sessão:
1. Que o Theatro Municipal fosse denominado "Theatro João Caetano".
Plandite Cives! O Talma da scena brazileira merece bem a homenagem do povo brazileiro offerecida solemnemente por um dos seus mais honestos e talentosos magistrados. É a homenagem exagerada mas cabida, do amigo das lettras ao amigo maior da arte. Mas é preciso notar que Nictheroy não foi ingrata áquelle que, no dizer de Lery Santos, o eminente patriota autor do "Pantheon Fluminenses" foi um artista genial e - "No Brazil ninguem o igualou ainda; na Europa poucos o tem excedido".
Nictheroy não foi ingrata porque já deu á rua Formosa (entre José Bonifacio e Praia das Flexas) o nome do grande Talma brazileiro.
É bem verdade que o nome de João Caetano assenta mais em um theatro que tanto o recorda do que em uma rua fluminense; mas é preciso lembrar que quando o municipio se mostrou grato a João Caetano, não havia theatro municipal e por tanto elle não fez uma desconsideração cÃvica.
2. Que a praça Visconde de Abaeté ficasse sendo chamada de Pedro Alvares Cabral.
Ha em Icarahy a rua Cabral em homenagem ao descobridor do Brazil. Nictheroy não foi ingrata. Ora, si o nome immortal do grande almirante portuguez já figura em uma das ruas do mais formoso de seus bairros, para que dar-lhe uma nova manifestação do mesmo genero e especie com prejuizo de una gloria civica brazileira?
O nome de Abaeté (Antonio Paulino Limpo de Abreu) recorda a energia civica dos revoltosos de Santa Luzia.
A praça a que se deu o nome de Abaeté tem como divisas:
A rua dos Legisladores.
A rua da Regeneração.
A rua do Fundador.
Essas tres expressões não falam, nada disem, á alma popular: ellas não consagram homenagem alguma, não dão ao povo nenhuma prova, nenhum signal de gratidão a um desses cidadãos benemeritos a quem a posteridade tem o dever de reverenciar.
Eis alli tres ruas que precisam mudar de nome.
Mas apagar o nome do liberal Abaeté, desse honrado patriota que veio amarrado com cordas de guaxima - de mãos e pés - para o Rio de Janeiro pelo mesmo terror que levou a Inglaterra a mandar o Sublime Corso para a ilha de Santa Helena, e deixar nas placas das esquinas que devem só relembrar serviços á patria umas expressões incolores e inodoras é um desserviço ao ensino civico.
Voto, pois, contra a proposta do sr. d. Luiz.
Melhor seria que aquellas ruas sem nome, se denominassem:
Rua Casimiro de Abreu.
Rua Ribeyrolles.
Rua Narcisa Amalia.
Eis ahi dois nomes queridos de fluminense e um de um expatriado, gloria civica da França, que merecem bem a homenagem dos homens de talento, entre os quaes folgo de poder glorificar ex-corde, o exm. amigo dr. d. Luiz de Souza da Silveira, orgulho de nosso foro, escudo de nobreza da magistratura brasileira.
Alfredo Azamor, 15 de julho de 1900
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Campo de São Bento, revista Fon Fon, 1904. Clique para ampliar |
Notas:
A proposta 1 foi aprovada na Câmara, mas a 2, felizmente não.
Rua Formosa, depois João Caetano, hoje Pereira Nunes;
Rua Cabral, hoje Tavares de Macedo;
Rua dos Legisladores, hoje Domingues de Sá
Rua da Regeneração, hoje Miguel Couto e Otávio Carneiro
Rua do Fundador, hoje Lopes Trovão