Alexandre Porto
ITAPUCA, POR JOAQUIM NORBERTO DE SOUZA E SILVA



Por Joaquim Norberto de Souza e Silva

Itapuca é uma gruta perfurada pelas ondas n'um monte de granito, de cor parda, que contrasta com as águas aniladas do mar, que a banha mais ou menos segundo o fluxo ou refluxo, e com o branco das areias depositadas no fundo.

É a praia de Icarahy um dos mais pitorescos contornos de Nictheroy, pelo grandioso dos penhascos que apresenta nos dois extremos de extensíssima praia, onde se esbarra o mar a bramir suas fúrias.

De ambos os lados se elevam montes, que se prolongam pelo mar, engastados nos extremos de granito como que para lhes resistir à fúria; lá é o rio Icarahy, que se extravasa por cima de suas represas de areia como lágrimas sem murmúrio, e cuja navegação na canoa de um só tronco é tão pitoresca por algumas braças rio acima, à vista daquelas margens cobertas de arvoredos e flores; lá fica o monte que separa a praia da do Saco de São Francisco, e cujos rochedos cobertos de parasitas ornadas de flores rubras, roxas e brancas, realçam daqueles verdes penachos, de que imaginaram nossos indígenas seus cocares.

De outro lado se alevanta o monte que a separa da Praia das Flechas, e que apresenta aspecto selvagem. Enormes rochedos aqui e ali arremessados às ondas por não sei que cataclismo, parecem desmensurados gigantes que zombam do furor das tempestades; aqui e ali rochedos à flor das ondas, brocados, e como tanques dispostos para banhos com a particularidade do renovamento das águas.

Em seguida do monte, acompanhando-lhe a base de granito gasta pelo atrito das vagas, entra-se na Itapuca; o mar penetra por uma fresta que dá ingresso comodamente, e essa gruta cavada por ele se eleva em forma de abóbada como um corredor de seis a sete braças de extensão, de maneira que fica dominada nas marés cheias; quando, porém, estão baixas, passa-se por esse corredor para a Praia das Flechas, e é ele o único caminho, pois que o monte é de difícil acesso.

Aí não penetra o sol; a água batida, límpida e fresca do mar tenta, e como que obriga a muitos a se banhar neste recinto, à vontade, longe de todas as vistas.

São tão solitárias todas essas praias, que apenas se povoam por ocasião da pesca das tainhas; então concorre a pobreza a obter pelo menor preço o alimento de muitas semanas, e as bangulas e canoas sulcam a pequena enseada em todos os sentidos, obedecendo ao aceno do vigia, que do alto de um desses rochedos, desses gigantes arrojados ao mar, lhes mostra o trilho que leva o cardume das tainhas.

O mar é sempre forte, e bate, e salta e filtra pelas cavidades dos rochedos com o mais melancólico murmúrio; quando, porém o tufão açoita o dorso do oceano, que as ondas se encapelam, o bramido do vento, o quebrar das vagas contra as paredes carcomidas da gruta, o eco repercutido nas abóbadas, como um rugido uníssono, rouco, medonho e prolongado, torna-se distinto à distancia de uma légua.

Publicado originalmente no jornal literário Museu Pittoresco, em 16 de dezembro de 1848
Pesquisa e edição de Alexandre Porto
Imagem de Capa, "Itapuca (1891), por Antonio Parreiras

Leia também: Lenda 'Itapuca' no palco do Teatro Municipal João Caetano



Publicado em 19/12/2021









Notícia histórica da cidade de Nictheroy em 1922
Nictheroy - Teatros e Clubes
Nictheroy: Ponta da Armação


aaaaaa

Com formação em Engenharia Florestal, eu, Alexandre Porto, já fui produtor orgânico de alimentos e apicultor, mas hoje ganho a vida como escriba (Enciclopaedia Britannica do Brasil, Fundação de Arte de Niterói). Há 20 anos me dedico a pesquisar a História de Niterói, minha cidade natal, do Vasco, meu incompreendido time de futebol, e da Música Popular Brasileira, minha cachaça. Por 15 anos mantive uma pioneira rádio online no Brasil, a "Radinha". Pra quem quiser me encontrar nas redes, seguem os links:
Facebook e Twitter