A história dos teatros em nosso município não recua além de 1839, data em que, dizem documentos que compulsamos, João Caetano teve, do governo provincial de então, o benefício de 15 loterias para a edificação do Santa Theresa, hoje Theatro Municipal.
O magno ator dramático já neste tempo notável e célebre, provável que se houvesse debutado ao público niteroiense em salões e teatrinhos particulares de que não temos tradição. Eis aí porque dizemos que a história teatral nossa, principia em 1839.
O primitivo local escolhido para a construção do primeiro teatro em nossa terra foi o terreno hoje ocupado pelo Fórum na rua da Imperatriz (outrora do Teatro) esquina da de El-Rei (hoje Visconde de Uruguay).
Ali João Caetano plantou os alicerces do edifício que não foi avante. Em 1848, o governo provincial mandando levantar planta para construir o seu palácio, ordenou que se aproveitassem, para esta construção, as obras já começadas do novo teatro.
Todavia a persistência do grande ator conseguiu do governo outro terreno para a obra que começara.
Este foi ocupado atualmente pelo Theatro Municipal. Não se pode descrever a luta e os embaraços que se antepuseram ao grande brasileiro. Basta que se saiba que em 1857 já o teatro de Santa Theresa funcionava no mesmo local que hoje estaciona-se, sob a direção do grande artista, com duas companhias líricas, uma italiana e a outra nacional que revezavam as representações. Ambas estas companhias trabalhavam também na Corte.
Foi por ocasião da representação do 'Trovador' em noite tempestuosa e feia, que um lúgubre espetáculo encheu os espectadores de susto e angústia. Conversaram na taberna do Beco da Tapioca, hoje de Alberto Victor, taberna pertencente a Pinto Siqueira, os cidadãos major Lago (João Pereira) Pimentel e outros, quando um raio fulminou o Siquera que estava no balcão, deixando os demais espavoridos e pasmos.
A notícia avultou-se chegando ao teatro onde os partidários de Ida Idelvira e Chartom (cantoras) estouravam entusiasmo em prol das divas. Mas o desastre esfriou-os. Dizem que Ida Idelvira estava nesta noite bastante embriagada.
Foi no velho Santa Theresa que João Caetano representou pela última vez, levando à cena o drama 'Os Íntimos', depois do que adoeceu e faleceu, em Outubro de 1862.
Com o tempo foi o teatro arruinando-se, com o que o comendador Nolberto e Silva lucrou, pois fez construir o Elyseu na rua de El Rei e para representar nele trazia artistas da capital. Foi ali que a cantora Ismênia começou a ter nome.
Não precisamos, doravante, ordem cronológica dos diversos clubes dramáticos e teatros que se fundaram em Nictheroy, até hoje.
Enumeramo-los, dando-lhes os principais tópicos tradicionais de sua existência, o que já nos custou grande trabalho. Aos que conhecerem a data da fundação dos mesmos pedimos que enviem a esta folha as informações.
Antes do Elyseu, o Club Dramático Caliope, composto de empregados públicos, teve um teatrinho na rua de São Pedro n.16 (hoje). Jezuina Montanni começou neste teatro a sua carreira artística, e ali J. Bernardo de Figueiredo, Lage e outros representaram muitas vezes de dama.
Deste clube formou-se o Concordia que tempos depois mudou-se para a rua Aureliana, esquina da Rainha. Representaram no Concordia o Marcolino Leite (Lopequim) e outros.
Club Olímpico Guanabara - Fundado em 1884 como sociedade de ginásticos, transformou-se, anos de pois, em dramático, tendo teatro próprio à rua de Santa Rosa, sob a direção de João Carlos Rodarte. Em seguida a este clube formou-se outro de médicos, organizado pelo Dr. Rocha, Nascente, J. Victorino e João Anastácio d'Almeida.
Diz a crônica que o Dr. José Victorino era a alma de clube nos papéis principais. A data da existência destes clubes rola pelos anos de 1852.
Houve também um outro clube com teatrinho próprio na rua Nova, do qual não tivemos o nome. Era o principal desta Sebastião Lisboa pelos anos de 1854.
Clube Talma. Fundado pelos anos de 1860 por Sebastião Lisboa, ator Galvão, Leal e Alberto Victor. Funcionava em teatrinho próprio no Rio dos Passarinhos, hoje Floresta.
Clube Nictheroyense. Fundado por Alberto Victor, Sebastião Lisboa e outros pelos anos de 1874 na rua da Rainha n. 55, teatro próprio.
Club São João Baptista. Criado pela dissidência do Nictheroyense veio representar no teatrinho de Santo Antônio à rua de S. João (hoje) n. 52. Foi este teatro construído ou de propriedade de Raphael José Mattos e Sá Pacheco. Mais tarde tornou-se público sendo a companhia do ator Martins e Amelia Goubernates a primeira que nele estreou, trazendo o ator Peixoto, Leopoldo, Galvão e Vasques. Este pateado antes de representar o Selo da Roda, no dito teatro.
Diversos Clubes nele representaram como fossem:
O Clube Dramático Cruz de Ouro, fundado por Alfredo Menezes. Estreou com a Dalila. Pela primeira vez viu-se em cena o jovial amador Costa Velho, que estreou com Seu Domingos Fora do Serio.
Cavalheiros da Luva Preta. Fundado, organizado e composto unicamente de cocheiros de bonde.
Clube Guanabara. Organizado pelo amador Gregório Dutra.
Clube Aristophanes. Organizado pelo amador José Torquato.
Outras sociedades dramáticas existiram, tendo teatro próprio. Citamos neste rol:
Clube José de Alencar. - Fundado pelos amadores Costa Velho e Tertuliano de Vasconcellos no prédio da rua da Rainha n. 153. Havia já então ali um teatrinho da família Lacerda que o Club comprou e nele estabeleceu-se.
Clube Fluminense - Fundado pelos amadores Costa Velho e Andrade, funcionava na rua da Praia, esquina da de São João, no prédio da que esteve a antiga Assembleia da Província, 1895.
Com a ruína e fechamento dos teatros Santa Thereza, Elyseu e Santo Antônio, constituiu-se de um prédio que havia à rua de El-Rei, esquina da do Imperador, uma nova casa de espetáculos com o titulo de Phoenix Nictheroyense. Este teatro inaugurou-se com uma companhia de Guilherme da Silveira e nele funcionaram as seguintes sociedades dramáticas:
Clube Kean - Fundado por Julio Kuer no intuito de arranjar donativos para a construção de um monumento a Fagundes Varella.
Clube João Caetano - Fundado pelos amadores Castro Vianna, Osorio da Silveira e Benevenuto Cellino. Mais tarde este Clube passou a funcionar no Santa Theresa, já então reformado.
Clube Vasques - Organizado pelos amadores Julio Picotis e José Torquato.
Eden Clube - Fundado por Tertuliano de Vasconcellos e Ernesto Vabo. Funcionou por pouco tempo no Santa Theresa, reformado.
O último Clube Dramático que tivemos foi o:
Assis Pacheco - Que funcionou no Santa Thereza e foi fundado por dissidentes do clube particular 27 de Julho localizado em teatro próprio à rua Nova n. 48.
De todos estes teatros e clubes resta somente hoje o teatro de Santa Theresa reformado pela Câmara Municipal que o comprou do governo do Estado em hasta pública em 1896.
Publicado originalmente em O Fluminense, em 28 de março de 1900
Pesquisa e Edição de Alexandre Porto
Com formação em Engenharia Florestal, eu, Alexandre Porto, já fui produtor orgânico de alimentos e apicultor, mas hoje ganho a vida como escriba (Enciclopaedia Britannica do Brasil, Fundação de Arte de Niterói). Há 20 anos me dedico a pesquisar a História de Niterói, minha cidade natal, do Vasco, meu incompreendido time de futebol, e da Música Popular Brasileira, minha cachaça. Por 15 anos mantive uma pioneira rádio online no Brasil, a "Radinha". Pra quem quiser me encontrar nas redes, seguem os links: Facebook
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