Alexandre Porto
NICTHEROY: SUA HITÓRIA E SEUS ARREBALDES, EM 1854



Resenha das Ruas, Travessas, Becos, Campos, Praças, Largos, etc. da Imperial Cidade de Nictheroy e Seus Subúrbios. Com a Indicação dos Seus Princípios e Fins Precedida de Uma Descrição da Imperial Cidade. Extraída dos apontamentos da "Corografia Fluminense" do distinto autor, o Sr. Joaquim Norberto de Sousa Silva (*)

A muitos espíritos apoucados pareceu excessivo mais de uma cidade à margem da tão pitoresca, da tão bela e maravilhosa baía dos antigos Tamoios, e não viram ao lado da antiga aldeia de Arariboia senão uma continuação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, essa Guanabara (**) dos netos de Tamandaré, essa França Antártica dos sectários de Calvino, que lhe servisse de arrabalde; porém a povoação, que em si continha o gérmen do engrandecimento, ganhou rápido incremento, e já em 10 de Maio de 1818 o Sr. D. João VI a elevava a vila com a denominação de 'Villa Real da Praia Grande', dando-se por termo as quatro freguesias de São João de Icarahy, de São Sebastião de Itaipu, de São Lourenço de Maruhy e de São Gonçalo de Guaxindiba, as quais ficaram desmembradas do termo da cidade do Rio de Janeiro, a que pertenciam, com todas as prerrogativas, todos os privilégios das demais vilas, sendo os moradores obrigados a aprontar à sua custa o Pelourinho, a Casa da Câmara, a Cadeia e mais oficinas debaixo das ordens do desembargo do Paço.

No alvará que erigiu esta nova vila, fez o Rei D. João VI saber que lhe foi presente, em consulta da mesa do desembargo do paço, a circunstância de ter sido especialmente honrada com a sua presença e a de sua família no dia 13 de Maio de 1816, concorrendo a corte formalmente e os tribunais, e estando nela acampada a divisão das tropas que depois se chamou por uma redundância dos voluntários Reais d'El-Rei, a quem foi então servido agraciar com especiais demonstrações de sua real benevolência: de maneira que até por este motivo, e para se perpetuar a memória daquele dia, era muito próprio de sua soberania elevar a povoação de São Domingos da Praia Grande a essa categoria.

A Câmara da nova vila foi composta, na forma da lei do reino, de três vereadores e um procurador do conselho, criado para ela pelo já mencionado alvará, assim como dois almotacés, dois tabeliães do público judicial e notas, um alcaide e o escrivão do seu cargo; ficando anexo ao ofício de primeiro tabelião os de escrivão da Câmara, almotaçaria e sisas, e ao de segundo tabelião o de escrivão de órfãos.

A esta Câmara ficaram pertencendo todos os rendimentos estabelecidos já na povoação e freguesias que até então eram percebidos pelo senado da Câmara da Corte, além de uma sesmaria de légua de terra em quadra conjunta ou separadamente, aonde houvesse desembaraçada, para ser aforada em pequenas porções, com foros razoáveis e laudêmio da lei.

Foi mais criado para a nova vila um lugar de juiz de fora do cível, crime e órfãos, ficando a Vila de Santa Maria de Maricá e seu termo, anexados à sua jurisdição, devendo o mesmo juiz servir com os mesmos escrivães e oficiais com que então serviam os juízes ordinários e dos órfãos da dita vila, que foram suprimidos desde a posse do supramencionado ministro, subsistindo unicamente os vereadores e procuradores do conselho, na forma observada nas vilas onde havia juízes de fora.

A necessidade desta nova vila era manifesta para melhor e mais fácil administração da justiça aos seus moradores, à vista dos grandes embaraços que todos eles experimentavam no longo trajeto do mar, pois eram obrigados a passar diariamente à cidade do Rio de Janeiro para promoverem os seus recursos, litígios e dependências; e tanto mais que a população já excedia a mais de 13 mil habitantes na sua total extensão e já em aumento pelas vantagens de sua situação e porto; e tamanho foi o regozijo de seus moradores que à noite a nova vila iluminou-se espontaneamente e fogueiras acesas em todo o vasto litoral refletiam seus fogos da superfície serena das águas, oferecendo à cidade do Rio de Janeiro, na margem oposta da baía, um espetáculo interessante e sublime.

Muito teve que fazer a nova Câmara e o digno juiz de fora, o Sr. José Clemente Pereira. A povoação da sede da vila, que começava em três grupos, um em São Domingos, em torno à igreja, antiga capela de uma fazenda que ali houve: outro em São João de Icarahy, freguesia desde 1696, e por fim em São Lourenço, aldeia de índios, já apresentava todos os defeitos dessas velhas cidades, com suas ruas estreitas, acanhadas e tortuosas, com seus becos feios e lamacentos, e com suas casas baixas e irregulares, e prometia assim continuar; porém aos esforços do digno magistrado e vereadores conseguiu-se dar-se-lhe um aspecto mais simétrico cortando-se-lhe o terreno em quadras iguais de 60 braças de cada lado, e abrindo-se ruas extensas de 60 palmos de largura, e deixando-se-lhe uma ou duas quadras devolutas para praças e logradouros públicos: já hoje porém essas ruas são tão estreitas que não admitem essas linhas de arvoredo que formem belas e formosas alamedas, como convém a uma cidade dos trópicos! São poucas as praças que lhe deixaram, e ainda em mal, nem um mato, nem um fragmento de floresta virgem lhe reservaram para seu jardim e coutadas!

Ainda assim a povoação teve rápido impulso, e já em 1834 era escolhida para servir interinamente de capital da província, desligada da Corte, que pelo ato adicional à constituição ficou formando um município neutro, como um arremedo dos Estados Unidos, em detrimento da prosperidade da Rainha da América Meridional, a Veneza brasileira do Sul, a imperial Guanabara.

A assembleia provincial fixou pela lei de 2 de Março de 1835 a capital da província nessa mesma vila, declarando que as suas reuniões teriam lugar nela do 1º de Outubro de 1836 em diante, o que tem sido por vezes mudado, e as novas repartições que se criaram começaram a dar-lhe um rápido e florescente incremento, e já em 28 do mesmo mês e ano era essa nascente vila elevada à categoria de cidade sob a denominação de Nictheroy, derivada da majestosa baía em cuja margem se debruça para mirar-se na superfície de suas águas, ensombrada pelas nogueiras de suas belas alamedas.

Já a esse tempo a vila oferecia o mais risonho e florescente aspecto, e a navegação a vapor, estabelecendo de hora em hora uma comunicação cômoda e fácil com a capital do império, imprimiu-lhe o selo da atividade e do progresso, pressagiando-lhe o mais lisonjeiro futuro, sendo que poucos anos depois se foi necessário estabelecer uma escala por São Domingos, aumentado com o seu arrabalde aristocrático - o pitoresco Ingá.

Hoje a sua população, segundo o censo do Sr. A. T. do Amaral, se eleva a 30 mil almas, sendo a população livre de mais de 15 mil.

II

A capital da primeira província do império não conta por assim dizer mais que 18 anos de existência, em quando muito 25, se lhe levarmos em conta os anos de vila, e, no entanto os seus progressos só não têm sido tão rápidos como poderiam ser se outros fossem os recursos das autoridades que visam o seu engrandecimento: a própria assembleia provincial não tem sido tão pródigo para com ela como conviria, porque, em escala mais pequena, acontece o mesmo que se vê para com a capital do império: toda a prestação é votada com algum ciúme pelos representantes de outras localidades, e pois força é marchar com mais morosidade.

Formosa e florescente, Nictheroy encerra em si elementos para ser uma bela e grande cidade, que prospera a par e passo do movimento da rainha desse novo Adriático; e sendo tão risonha e aprazível como qualquer dos pitorescos arrabaldes da Corte, tem de mais a vantagem de sobrepuja-los a muitos respeitos, e, mormente pela amenidade de seu clima saudável e puro, rescendente do perfume de seus bosques e jardins; e seja-me ainda uma vez permitido saudá-la aqui com os versos da infância:

Ó Nictheroy encantadora e bella,
Não tens a egregia frente torneada,
Nem te adornão trophéus de mil victorias,
Portentos marciaes de heróes, teus filhos;
Rotos, escalavrados os teus muros
Pela granada ardente do inimigo,
Que em sitio a dura fome te obrigasse;
Mas a selvagem corsa do deserto,
Que na torrente a sêde saciando,
Pára e contempla a imagem retratada
No espelho das aguas crystallinas,
Não é tão bella como a debruçar-te
Á margem de se lago adormecido,
Dos bosques teus á sombra! Oh! és apenas
Viridante vergel, que te convertes
Em pittoresca, renascente villa!


Administrações

As duas administrações que mais tem durado na província têm sido as dos Exms. Srs. conselheiros Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho e Luís Pedreira do Couto Ferraz: a elas, sobretudo deve Nictheroy os muitos melhoramentos de recente data. A rua Aureliana é um testemunho perdurável a respeito da presidência do primeiro, que acabou com esses litígios que se eternizavam entre a Câmara Municipal e certo proprietário, a respeito de algumas localidades, onde fez construir dois chafarizes que, força é dizê-lo, de monumentais só têm o nome, e mandou construir o cais de Martim Affonso.

Assim o engenheiro que delineou e dirigiu tais obras compreendesse em toda a sua extensão o sublime, grande e patriótico pensamento do ilustre senador, que também pretendeu dotar a capital da província com ruas largas de cem palmos nesse arrabalde que se alevanta a olhos vistos nas restingas de Icarahy, e que é de crer levará a efeito os seus ilustres sucessores.

Ao Exm. Sr. Pedreira deve Nictheroy relevantes serviços, como o cais da rua da Praia e o plantio de seu arvoredo, que convém ser aumentado com uma segunda linha, e que dá e dará sempre à risonha capital da província um aspecto por demais pitoresco, e o cais que da rua do Príncipe vai contornar o morro da Armação, formando pela Ponta d'Areia o mais belo passeio que terá em breve a cidade, graças aos esforços do Sr. Francisco Xavier Baptista, que tão zelosamente se encarregara da administração de uma obra de tanta importância, que em muitas partes a muralha desceu à profundidade de vinte três palmos.

Nesta localidade, que se tem engrandecido com o estabelecimento de fundição e estaleiro do Sr. Comendador Ireneu Evangelista de Souza, tudo é poético, risonho e encantador à vista das cenas pitorescas da natureza, que nesse mar semeou bonitas ilhas que, cobertas de arvoredos, abanados pela viração, parecem bolar sobre as suas aniladas ondas!

Quando pontes lançadas por cima das águas do mar ligarem essas numerosas ilhas entre si, e todas elas à terra firme; quando a Câmara municipal converter esse mangue e baixios da baía de São Lourenço de Maruhy em quarteirões cortados por canais simétricos como as ruas de uma nova Veneza, e que o passeio dos arvoredos em alameda da rua da Praia vier encontrar o da Ponta d'Areia, contornando o grande morro da Armação, que antigamente era uma ilha, como talvez se depreenda do terreno sedimentoso em que está a cidade, e o sistema dos montes que contornam a baía desde o Carauatá até São Lourenço, oh! que não haverá arrabalde no mundo que se lhe possa avantajar em rasgos de vista, e no pitoresco das cenas de uma natureza luxuriante como a dos trópico.

Não será um sonho, porquanto ao aterro da rua do Imperador, que está a concluir-se, tem de seguir a da rua do Mangue e a de São Joaquim, que, plantados de arvoredo, oferecerão aprazíveis passeios bordando um como vasto tanque, que por agora se acha tão desigual, pois cada proprietário aterra sobre o mar o que lhe parece, formando cais irregulares, que enfeiam em vez de embelezar tão risonho sítio.

Aqueles que traçaram a planta da antiga vila não tiveram em vista o futuro que lhe estava reservado nos arcanos da divindade, e apesar das enxanças que lhe deram não foram elas tais e quejandas como são para desejar a uma cidade capital de uma próspera, rica e florescente província. Assim as praças que lhe abriram não guardaram a equidistância conveniente, e nem foram em número suficiente às comodidades e à higiene pública.

Esse defeito pode em parte ser remediado: assim, em frente do novo quartel, que se acha quase concluído, formou-se uma nova praça, aproveitando-se um terreno devoluto; e apesar do defeito que lhe resulta da falta de simetria no cruzamento das embocaduras das ruas, é hoje uma das praças mais belas e formosas da cidade. Esta praça jaz ainda sem nome, e se o tiver, será como o de muitas ruas, e até as próprias praças de Nictheroy; nomes sem propriedade alguma, destituídos de todo o fundamento, sem una tradição que os ligue à história da pátria ou às crônicas de suas localidades.

Tendo lembrado um nome para ela pelos jornais, o povo o adotou, porque, como uma tradição, ele se liga à história e recorda um feito de armas de que foram testemunhas há séculos essas plagas niteroienses.

III - Freguesias

O município de Nictheroy divide-se em seis freguesias, mas das quais tão somente existem instaladas a da cidade, que é a de São João Baptista de Icarahy, a de São Gonçalo de Guaxindiba e a de São Sebastião de Itaipu; as outras são a de São Lourenço de Maruhy entre a de São João e a de São Gonçalo, a de Nossa Senhora da Conceição de Cordeiros entre a de São Gonçalo e o município de Itaboraí, a de Nossa Senhora da Conceição da Jurujuba, entre a de São João e a de São Sebastião, as quais, ou por falta de definitiva demarcação de limites, ou de capela para os ofícios divinos, ainda existem como se não tivessem sido criadas, com grande prejuízo e incomodo dos povos, que tem de correr grandes distâncias para obterem os socorros espirituais.

A freguesia de São João Baptista de Icarahy é onde se acha encravada a cidade; o nome de Icarahy que lhe ficou vem de ter sido o seu primeiro templo fundado numa eminência próxima ao campo da antiga fazenda do mosteiro de São Bento, no lugar denominado da Pedra, por onde se desliza um regato que leva com seu nome as suas águas à praia não muito distante de Icarahy, que antigamente se dizia Guarahy, e com mais propriedade. A tradição não lhe conservou o nome de seu fundador nem a época de sua fundação; e dele apenas restam raros vestígios; era apenas uma ermida que debaixo do título de capela curada já existia em 1660, e que arruinada força foi transportar a pia batismal para outra ermida dedicada a Nossa Senhora das Necessidades, existente nas suas proximidades, e como ela também erguida sobre uma eminência, onde para mais comodidade foi acrescentada com nova capela mor, cujas paredes laterais, segundo uma antiga Memória do vigário Antonio Francisco de Bitancourt, foram construídas pelo correr do ano de 1726, e sendo lançada solenemente a primeira pedra chamada fundamental, em 18 de Novembro de 1743, se concluiu a obra no ano seguinte.

Transferidas então a pia batismal e a imagem do seu orago, teve lugar pela primeira vez o santo sacrifício da missa em 28 de Dezembro de 1746. O aumento da povoação trouxe de novo a necessidade de sua mudança para o centro da cidade que então gozava apenas dos foros de uma pequena vila, e os habitantes ergueram, à suas expensas, a capela provisória que se vê na Praça Municipal, onde começou posteriormente a erguer-se um novo templo de mais durável construção sobre mais amplo plano, pois já não é a matriz de uma vila, mas a da capital de uma bela província do império, e que em breve abrirá as suas portas às sagradas funções do cristianismo. A matriz de São João Batista de Nictheroy tem por filiais as seguintes capelas:

A de Nossa Senhora da Conceição, que se eleva por entre sombrios ciprestes sobre o teso de um monte que olha para o norte, e donde se descortina quase toda a cidade cercada pelas águas aniladas do Atlântico, e surgindo do meio de seus vergéis ...

... A triste e rústica capela
Da Imaculada Veneranda Virgem
Ensombrada por fúnebres ciprestes
Que a devoção ergueu sobre a montanha,
Quando estas plagas habitavam feras,
Qual tributo de amor, que nos seus braços
Erguia a terra aos céus entre os seus bosques!


Antonio Corrêa de Pana, homem pardo, geralmente conhecido por Pai Correa, foi o seu fundador: com as esmolas dos devotos a erigiu no sítio que para isso lhe concederam os herdeiros de Martim Affonso de Souza, o bravo Arariboia; assim consta da escritura celebrada em 27 de Agosto de 1671 sobre o alpendre da ermida de São Domingos, sendo tabelião Manoel Cardoso Leitão, se bem que a sua existência data de antes de 1663, pelo legado que lhe deixou José Gonçalves em testamento com que faleceu em 30 de Dezembro desse mesmo ano.

O seu patrimônio é administrado por uma irmandade que, ou por precisão de reforma ou por subsistir sem título legítimo, foi de novo ereta em 1770, e em nossos dias convertida em confraria. É um templo simples, que tem a seu lado, um pouco mais acima, o hospital da sua ordem para os irmãos pobres; não tem o menor vislumbre de arquitetura; e cujo interior, a não serem as suas paredes brancas, destituídas de qualquer ornamento, nada oferece de notável; a perspectiva, porém, que apresenta, acorda na alma a mais religiosa melancolia.

As suas catacumbas foram até aqui o único asilo dos finados: assim os sons lúgrubes dos sinos da sua humilde torre vem por vezes lembrar aos habitantes da nascente cidade a terrível verdade do na da existência; aqueles sons repercutem-se por toda a cidade; Vê se cá do vale o fúnebre saimento que acompanha o féretro subindo por suas largas escadas compassadamente; o clarão das velas, o melancólico aspecto da capelinha, com seu pano mortuário pendente do singelo pórtico ensombrada por verde-negros ciprestes que contam quase dois séculos de existência, os sons das campas e depois as vozes sagradas dos padres. Ah! tudo isso leva à alma a profunda meditação!... Lá está o alpendre da morte, - até aqui único cemitério da cidade; lá correm enfileirados uns sobre os outros os últimos leitos do homem; lá está a porta baixa das catacumbas, que se não franquia sem respeitoso acatamento; Lá está seu dístico terrível como se a mirrada mão da morte o tivesse escrito: "Nós somos o que vós sois , vós sereis o que nós somos"!

A multidão penetra, e pouco depois tudo se dispersa e o silêncio sepulcral paira em torno de sua mansão. Aquelas terríveis, mas sublimes palavras, aquela inscrição como uma verdade eterna, parece que desterra, que aparta deste lugar tão aprazível pelos seus rasgos de vistas aos habitantes de Nictheroy. Um dia há, porém, no ano em que a capela de Nossa Senhora da Conceição brilha com todas as galas; em que a cidade imperial patenteia-se com toda a pompa de uma capital; é o dia 8 do mês de Dezembro, em que a igreja celebra a Conceição de Maria, padroeira da mesma capela; e a cidade reserva para esse dia os seus festejos ao aniversario natalício do Monarca brasileiro: a guarda nacional forma em grande parada e a procissão da Santa Virgem percorre as principais ruas da cidade por entre uma imensa multidão que aflui da Corte e das imediações da cidade.

A capela de São Domingos, levantada sobre a praia por Domingos de Araújo e sua mulher Violante do Céo, muito antes de 1652, os quais eram ali possuidores de uma fazenda, de que hoje só resta a capela; o mais converteu-se numa povoação que se aumenta todos os dias.

A capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, erigida por Diogo Carvalho da Fontoura, sobre um promontório, que o mar cavando separou da terra e cingindo-o converteu-o numa ilha onde existe o forte do mesmo nome. Não se sabe o ano de sua fundação, mas a tradição a faz anterior à de São Domingos. A de Nossa Senhora da Conceição, edificada na ilha deste nome por Manoel Rodrigues de Figueiredo em 16 de Julho de 1714.

A de Nossa Senhora do mesmo título, ereta pelo padre Manoel Rodrigues, à beira do mar, no Saco da Jurujuba em 1716, destinada a freguesia.

A de São Francisco Xavier, sobre uma eminência que se eleva dividindo São Francisco do da Jurujuba, ereta pelos padres jesuítas, que ali possuíam uma fazenda, em anos anteriores ao de 1696.

A de São Pedro, fundada na fazenda denominada Maruhy pelos seus proprietários, os irmãos José Pereira Corrêa e Francisco Victoriano Pereira em 17 de Agosto de 1751, e hoje de propriedade provincial e convertida em capela mortuária pelo estabelecimento do cemitério nas terras da antiga fazenda, o qual deve começar a servir a datar de Janeiro de 1855: fica perto de um porto de mar e de uma ponte de ferro lançada sobre as aguas do mar que alagam os terrenos adjacentes.

A de Santa Rosa, construída na fazenda deste nome do princípio ao meado do século passado (XVIII) pelo capitão Pedro Barreiros de Souza.

A de N. Sra. da Conceição, ereta em Pendotiba, no Rio das Pedras, por José Fernandes de Souza em 12 de Janeiro de 1787 e benzida em 30 de Dezembro do mesmo ano.

A de Santa Anna, fundada sobre um monte da fazenda do mesmo nome, fundada por João Martins de Brito em 30 de Dezembro de 1732, que se pretende erigir em freguesia extinguindo-se a de São Lourenço.

A de Santo Ignacio, sobre o cais do morro da Armação, junto aos armazéns do antigo estabelecimento das fábricas de azeite de peixe, ereta sobre as ruínas de uma antiga capela por José Joaquim do Cabo e João Marcos Vieira, empresário dessa indústria, a qual foi benta em 23 de Junho de 1796.

A de N. Sra. do Rosário, sobre uma eminência nas proximidades de Icarahy; é a antiga capela de N. Sra. das Necessidades, onde esteve por tempo a pia batismal e a imagem do padroeiro da freguesia de São João Batista.

E uma nova capela cuja primeira pedra foi lançada no mês de Novembro do ano passado (1853) no Ingá.

A sua população, incluindo nela as da freguesia de São Lourenço e Conceição da Jurujuba, é de 15.314 habitantes; a população livre é de 8.861, compondo-se de 6.528 brancos, 119 indígenas, 1.656 pardos, 628 pretos; a escrava eleva-se a 6.453, sendo 383 pardos e 6,070 pretos.

IV - Batalha de Arariboia

A capela de São Lourenço, que, por causa da aprovação definitiva de seus limites, se não conta ainda no número das freguesias da cidade, foi considerada paroquia desde 2 de Maio de 1758 em que foi elevada a essa categoria em virtude de uma ordem régia que mandou que as igrejas dos Índios, administradas até então pelos jesuítas, se erigissem em paroquias com o título de vigararias, e que o ordinário as fizesse servir por clérigos, dando-lhes as côngruas competentes e já estabelecidas por ordens respectivas, e ainda o alvará de 22 de Dezembro de 1795 ordenou que se colassem todas as igrejas das aldeias de Índios.

Foi esta freguesia antigamente uma aldeia de Índios, a qual ficando encravada na povoação de origem portuguesa, que é hoje a cidade de Nictheroy, vieram os seus primitivos habitantes a confundir-se com a raça europeia e africana e a desaparecer, de maneira que quase que se acha extinta, e deveu ela a sua fundação a um índio da tribo dos Tupiminós ou Temiminós. Esse homem intrépido e de ânimo guerreiro, não só cooperou para a fundação da cidade do Rio de Janeiro, como que servia de guarda avançada nos estabelecimentos colônias dos Portugueses contra as incursões dos valorosos Tamoios, fundando a aldeia de São Lourenço em Maruhy; e esse homem e esse guerreiro é o índio Arariboia, que na pia do batismo tomara o nome de Martim Affonso de Souza.

Ele que cooperou para a expulsão dos franceses, aniquilando os primeiros fundamentos da famosa França Antártica, e ajudando a lançar os alicerces da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, rubricados com o sangue do valente Estácio de Sá não teve dúvida de anuir as solicitações dos portugueses, e estabelecer-se e fundar na margem oriental da baía a aldeia de São Lourenço, como um baluarte em frente à nova cidade, para conservar em respeito e conter as irrupções dos seus formidáveis inimigos, os belicosos Tamoios.

Obteve pois para si e para os seus valorosos Tominós oo Tupiminós as terras que foram de Antonio de Marins e sua mulher Isabel Velha, que para isso lhe rederam por escritura pública de renúncia em 16 de Março de 1568, compreendendo todo o terreno desde primeiras barreiras vermelhas, correndo ao longo da baía acima caminho do norte até completar uma légua, e duas léguas para o sertão, e por carta de sesmaria da mesma data lhe fez o governador Mem de Sá doação dessas terras, nas quais o mandou meter de posse o seu sucessor Christovão de Barros, o que com toda a solenidade teve lugar em 22 de Novembro de 1573, adiando-se por então a sua demarcação e medição já começada em 2 de Abril de 1569 pelo governador Rodrigues de Miranda Henriques.

Lançavam-se os fundamentos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que de acanhada, mesquinha e pequena aldeia tinha de elevar-se à sede da metrópole, servindo de asilo aos Reis da velha Lusitânia; tinha de ser a capital de um império talhado para novos Assírios, novos Gregos ou Romanos; cavavam-se os alicerces do colégio dos jesuítas nas terras que, em nome do Rei Dom Sebastião, assinalara o governador e aceitara o visitador Ignacio de Azevedo, nesse monte que domina o recinto da cidade, chamado do Castello de São Januário, mas do qual já poucos vestígios restam, e na margem à oriental da magnifica baía florescia e aumentava-se a nova povoação, assim em cristandade, sob a direção do ilustre jesuíta o padre Nobrega, "que muito se desvelava em doutrinar na paz os que na guerra combaterão sob a bandeira do christianismo", como em número de gente que se lhe agregara sob o governo de Arariboia,

Pelos contornos de uma das mais belas montanhas de Nictheroy agruparam-se as choupanas dos índios, dando-lhe mais risonha e mais encantadora fisionomia com seus pardos tetos de sapé e suas brancas paredes, aparecendo aqui e ali por entre a luxuriante pompa da natureza, que pouco a pouco desapareceu de modo a não haver, já hoje, uma só das árvores contemporâneas do grande índio, que pequenas, mesquinhas, insignificantes moitas as substituíram.

Tempos depois, muito posteriores ao ano de 1627, recebeu a montanha a capela que os padres jesuítas Gonçalo de Oliveira e Balthasar Alvares dedicaram desde seus fundamentos ao mártir São Lourenço. Baluarte erguido em defensão da nascente cidade do Rio de Janeiro, conservou ainda a aldeia por muito tempo a memória do combate de que foram testemunhas as praias niteroienses, que ficaram "tintas, manchadas de inimigo sangue!" e no qual Martim Affonso de Souza provou ainda uma vez que o seu nome de guerra era Arariboia, a serpente terrível, a cobra feroz.

Despeitado Guaixará das vantagens que num encontro chamado Combate das canoas lhe levara Arariboia, aproveitando-se do ensejo favorável da chegada de quatro naus francesas a Cabo Frio para vi-lo atacar na povoação que não sem dor sabia por comunicação ter ele fundado em frente do estabelecimento colonial dos Portugueses, e ardia no desejo, e pensava nos sonhos de sua ambição ter já por troféus da vitória o chefe dos Tupiminós como prisioneiro, o qual devia ser conduzido às suas tabas, onde caro pagaria o seu valor, coragem e ousadia; como, porém no preparativo da expedição chegasse primeiro a nova do perigo que estava iminente sobre a nascente cidade, tomou para logo Salvador Corrêa, sobrinho de Mem de Sá, a quem ele encarregara do governo do Rio de Janeiro, todas as providencias, e pediu socorro à capital de São Vicente, como mais vizinha.

Arariboia, tão prudente como valoroso, resolveu esperar o inimigo na sua povoação; abriu novos valos, construiu novas estacadas, reforçou as débeis trincheiras que apenas lhe serviam de amparo contra os índios do sertão, e, guiado pelos conselhos dos padres jesuítas, Gonçalo de Oliveira e Balthasar Alvares, que permaneceram na aldeia, despediu para o interior toda a gente menos azada para o combate, municiou os guerreiros com todos os apetrechos necessários para a guerra, e adestrou-os em manejos e exercícios para a defesa das trincheiras.

Descambava o sol no ocidente e refrescava a viração da tarde quando a esquadra inimiga, composta de quatro naus e oito lanchas e um número sem fim de canoas, penetra pela barra da baía niteroiense, apenas guardada por esses gigantes de granito que lhe deu a natureza por símbolo de sua grandeza, força e poder.

Rebenta na cidade o sinal de sua aproximação, toca-se a rebate por toda a parte, e de toda a parte os habitantes correm às armas, acodem, voam às trincheiras. Martim Affonso sebe o cume da montanha, e neste ponto de vista majestoso viu ele a seus pés a sua aldeia com as suas fortificações guardadas pelos seus índios, e ao longe, levando os olhos pela imensidade das águas, descobriu a esquadra que mais e mais se aproximando, dobrou a ponta do Gragoatá, e meteu as proas em direção à sua povoação. Vinham açoutando as águas, atroando os ares, enchendo-os de nuvens de flechas, como celebrando já a vitória que davam por ganha.

No entanto, a direção da esquadra desassombrara os habitantes de São Sebastião do receio de um ataque; Salvador Corrêa despede o capitão Duarte Mathias Mourão com trinta e cinco portugueses; este chega à força de remos, procurando o abrigo do morro da Armação, à enseada de São Lourenço de Maruhy, e vai surpreender o capitão-mor da aldeia com o inesperado reforço.

À vista das armas de fogo para opor resistência aos soldados franceses, alegra-se, anima-se Martim Affonso de Souza; não é mais aquele que procura no ataque a defensiva, que tem de combater, através das trincheiras, e pugnar com poucos defensores contra uma multidão de inimigos encarniçados pelo furor da vingança: com os olhos cheios de lágrimas de gratidão arrasa com o espanto e admiração dos seus as suas trincheiras, põe-se à frente de seus guerreiros, e desce ao encontro do inimigo em silêncio. É ele quem lhes vai a peito descoberto oferecer batalha no meio das trevas da noite, quando eles aguardavam o crastino dia.

Despertam os Tamoios ao brado de guerra: entre o horror da escuridão da noite trava-se combate horrível, renhido e mortífero; o estrondo das armas, o grito dos combatentes aumenta ainda mais a confusão; o inimigo sem ordem, envolto mesmo, volta as armas contra o próprio seio, como uma serpente que se dilacera com seus dentes, não vendo o dano que causa; de parte a parte o valor disputa a vitória, ferindo, matando, já juncando as praias de cadáveres, já tingindo as areias de sangue; de parte a parte avançam, atropelam-se; e a confusão que reinava há muito entre os Tamoios acaba por obrigá-los a procurar na fuga a salvação de suas vidas: protegidos das trevas ganham as canoas, e conseguem afastar-se das praias, que deixam ao triunfo das armas de Arariboia.

Enquanto assim combatiam em terra, apedrejava um falcão as naus francesas, que nada puderam fazer por ficar na vazante da maré, encalhadas e adornadas sem poderem manejar a artilharia.

Não descansou ainda assim o grande Arariboia, porquanto, tendo-se as naus safado durante a noite com a enchente da maré, ajudadas depois com o terral da manhã, saíram mar em fora, e decidindo-se Salvador Corrêa de Sá a ir a seu encontro com o socorro que, posto que tardio, lhe chegara da capitania de São Vicente, o acompanhou nessa empresa. Já não as encontrou em Cabo Frio, que apenas lá estava ancorado um galeão, e por baixo de suas baterias se meteram as suas canoas, e as deixaram manejando inutilmente; deram os portugueses e índios a abordagem, e caindo morto o comandante ferido num olho por uma seta disparada por um dos índios de Arariboia, rendeu-se o galeão, e foi conduzido triunfantemente ao Rio de Janeiro, como troféu de tão grande feito.

Arariboia não ficou sem recompensa; mereceu da munificência do Rei D. Sebastião, além de muitos brindes de apreço, um vestido do próprio uso que o infeliz monarca lhe mandara, e a mercê honrosa, e muito cobiçada daqueles tempos, de um hábito de cavaleiro da ordem de Cristo e do posto de Capitão-mor de sua aldeia, com o padrão de tença de doze mil réis. Viveu satisfeito e contente tendo presenciado o florescimento de sua aldeia, até que a morte o veio desastrosamente surpreender. Morreu afogado junto à ilha de Mocanguê-mirim, não longe de sua habitação, deixando a seus descendentes a sua glória, a seus filhos a sua tença, e à sua aldeia o seu nome; mas hoje...

Oh! nem um dentre os descendentes de Martim Affonso de Souza se glória do sangue americano que lhe corre nas veias: nem um dentre eles sabe dizer quem foi Arariboia, onde era a choupana de seu primeiro capitão-mor!... Uma raça espúria, degenerada, que se envergonha de sua origem, nega que ali tivera o berço, e aponta para os arredores longínquos como lugares de seu nascimento; ignora ou finge ignorar a língua de seus ascendentes, e diz orgulhosa: "Nós somos brancos!" E, entretanto, o nome do ilustre capitão, bolando sobre as ondas do tempo, não pereceu ainda; vive na história da fundação da capital do império americano, liga-se Às tradições dos primeiros tempos coloniais, recorda-se a cada momento numa praça e ruas da cidade que começou outrora pela sua pobre e mesquinha aldeia, e acabou por se tornar a capital de uma das mais prosperas e florescentes províncias; mas ah!, falta-lhe ainda um reconhecimento mais positivo da posteridade para com ele, porquanto o monumento que o Exmo Sr. Aureliano quis que se elevasse à sua memória no chafariz da praça do seu nome, nada tem de simbólico a tal respeito; que, e ainda em mal, não soube o ilustre major, o Sr. Lorena, compreender e traduzir desta vez, sendo aliás dotado de tanto talento e tendo nos seus conhecimentos profissionais tantos e tão variados recursos, o patriótico pensamento de S. Ex., e o monumento é um chafariz!

E cáe, e se anniquila, e desparece
A tosca aldêa do Indiano ousado,
Que outr'ora floresceu erguendo a frente
Como a palmeira sobre o altivo mente;
E nem sequer o nome por memoria
Tem de seu fundador; nem uma pedra,
Nem um tronco sequer erguido ao genio,
Cujo valor alçou as lusas quinas
Em triumpho immortal por sobre as armas
Desse Villegaignon, desse homem impio
Que os proprios seus trahio! E elle que outr'ora
Aqui viveu de fama rodeado,
Nem os netos sequer sabem-lhe o nome!
Espuria raça té lhe nega a origem!...
Morreu, dormem com elle no sepulchro
Tantas glorias que a patria não os vinga,
Mais madrasta que mãi, ingrata sempre!


O número de seus habitantes está incluído no da freguesia de São João Baptista.

V - São Gonçalo

A freguesia de São Gonçalo foi criada em 22 de Janeiro de 1645 pelo prelado Antonio de Maria Loureiro, e confirmada pelo alvará de 10 de Fevereiro de 1647, erigindo em matriz a capela que nas vizinhanças do rio Guaxindiba, e em terras de sua fazenda foi fundado, segundo a tradição, por Gonçalo Gonçalves, e dedicada a São Gonçalo. Existe hoje no mesmo lugar no meio de um pequeno arraial, um templo no qual se trabalha desde 1806, e em torno dele está o cemitério da paroquia, que o governo da província trata de remover para sítio mais apropriado, e para isso cedido por um dos cidadãos mais beneméritos da povoação.

O seu território, onde se acham numerosos engenhos de açúcar e de aguardente, ótimas olarias, grandes fazendas de café, vastas hortas e belíssimos pomares, é um dos mais férteis e melhor cultivados do município de Nictheroy, e é regado pelo Guaxindiba, navegável até algumas braças rio acima, e que se intumesce espantosamente no tempo das águas; o de São Gonçalo, que passeia em frente da matriz, o do Gambá não menos rico de água, e do Aldeia, além de outros muitos, porém menos importantes que descem das serras das Ipiabas, e são cortados por pontes, das quais algumas de ferro. São filiais desta matriz as seguintes capelas:

A de Nossa Senhora da Luz, fundada no campo de Itaoca pelo capitão Francisco Dias da Luz, um dos companheiros de Mem de Sá.

A de Nossa Senhora da Esperança, levantada em Ipihiba Pequena por Gregorio Dutra antes de 1740 e reconstruída em 1766 por Alexandre da Costa Barros.

A de Nossa Senhora do Rosário, ereta no Engenho Pequeno, muito antes do ano de 1713, tendo então por padroeira a Nossa Senhora da Conceição, a qual foi depois renovada pelo capitão Miguel de Frias e Vasconcellos, que mudou o título do primeiro orago.

A de Santa Anna, construída no sítio do Pacheco por Francisco Ferreira Dorlando, muito antes de 1713, e novamente ereta em 27 de Abril de 1750 por João Pacheco Pereira.

A de Nossa Senhora da Conceição, ereta em 17 de Dezembro de 1714.

A da Santíssima Trindade, edificada em anos anteriores ao de 1729 e renovada em 21 de Fevereiro de 1774.

A de Santa Anna em Culabandê, dedicada em sua origem a Nossa Senhora do Monserrate.

A de São Francisco, ereta em Quibangaça, em 25 de Novembro de 1747, com pia batismal e cemitério.

A de Nossa Senhora do Desterro em Ipihiba Grande (Piibação) fundada em 12 de janeiro de 1830 por Domingos Paes Pereira, também com pia batismal e cemitério.

A de São Thomé, na ilha dos Flamengos, edificada em 13 de Setembro de 1746 pelo cônego João Vaz Ferreira.

O número de seus habitantes orça por 11.822, incluindo a nova freguesia da Conceição de Cordeiros. A sua população livre é de 5.329 habitantes, sendo 3.050 brancos, 20 indígenas, 1.734 pardos e 525 pretos: a escrava é de 6.493, sendo 271 pardos e 6.222 pretos.

VI - Itaipu

A freguesia de São Sebastião de Itaipu foi ereta em 1720, tendo sido a sua capela edificada muito antes do ano de 1716, dividindo-se ao norte com a freguesia de São Gonçalo, à leste com a de N. Sra. do Amparo de Maricá, à oeste com a de S. João Baptista de Icarahy, tendo ao sul a imensidade do oceano Atlântico que brame nas suas pitorescas costas, e joga com os seus enormes rochedos.

A matriz tendo-se arruinado, mandou a Assembleia legislativa provincial erguer em seu lugar o templo que agora subsiste a expensas dos cofres provinciais. Com a velha igreja desapareceu o recolhimento de Santa Theresa que existia unido a ela, o qual tinha sido levantado pelas diligências de Manoel da Rocha, cognominado Protetor do Bem Comum, do vigário Manoel Francisco da Costa e do padre Antonio José dos Reis Pereira e Castro, e para ele começaram a entrar em 17 de Junho de 1764 as mulheres a quem agradava o retiro do século ou algumas circunstancias obrigavam a habitá-lo para nele expiarem as suas culpas.

Tem por filiais as seguintes capelas:

De N. Sra. do Bom Sucesso, fundada em uma eminência, sobre a lagoa de Piratininga por Alberto Gago da Câmara, e que já gozou dos foros de curada. De N. Sra. da Assumpção, ereta em 1734.

De N. Sra. da Conceição de Itaoca, levantada pelos antipossuidores da fazenda deste nome.

De N. Sra. da Penha, construída na barra da Lagoa de Piratininga por José Viegas Lisboa em 4 de Outubro de 1745.

De N. Sra. da Conceição de Itacotiara, ereta nestes últimos anos.

É o território desta freguesia o mais pitoresco do município de Nictheroy: subindo a estrada que se eleva aos cumes da serra da Viração, patenteia-se ao viajante a mais bela vista; a seus pés se estendem os fundos vales, dilatam as verdes campinas, que vão por sobre colinas coroadas com as casas que branquejam e se perdem na serra de Itaipuaçu: regada por belos rios a terra perde em seu seio as lagoas de Piratininga e Itaipu, e além se perde no horizonte o oceano Atlântico. A espaços vê-se ainda grandes porções de mato virgem cobrindo a terra, coroando os altos cumes dos seus serrotes, e guardando em seu seio esses habitantes dos bosques, tristes relíquias que desaparecem quotidianamente ao arcabuz dos feros caçadores. Aqui e ali a terra lavradia mostra com pompa e soberbia as produções agrícolas que prosperam em nosso solo, e os vastos canaviais que mantém alguns engenhos de açúcar.

O número de seus habitantes eleva-se a 3.543, sendo a população livre de 1.609 habitantes, dos quais 901 brancos, 502 pardos, e 206 pretos: o recenseamento do Sr. Amaral feito em 1850 não dá o numero dos indígenas. O número dos escravos é 1.934, sendo negros 1.751, e pardos 183.

VII - Cordeiros

A freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Cordeiros foi criada pela lei nº 311 de 4 de Abril de 1844 no lugar denominado Cordeiros, devendo ser instaurada logo que esteja em estado de prestar-se ao culto religioso a matriz que os moradores do lugar se obrigaram a construir a suas expensas. Terá então por limites, pelo lado de São Gonçalo, os mesmos que outrora foram do 2º distrito, compreendendo as fazendas de Ipihiba de Malheiros com todos os seus moradores e arrendatários; pelo lado de Itaboraí os mesmos marcados pelo presidente da província em 22 de Dezembro de 1842, a exceção das fazendas de Correa da Serra, Carvalhosa e Salvaterra com todos os seus moradores e arrendatários, que ficaram pertencendo a Itaboraí, e pelo lado de Maricá os mesmos que atualmente vigoram.

A freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Jurujuba, criada pela lei n. 208 de 23 de Maio de 1840, que lhe deu por território o distrito do juizado de paz do Cavallie, não podendo porém ser provido de paroco senão quando os povos concluírem a igreja a que deram principio, e para a qual a Assembleia legislativa provincial consignou loterias.

Conclusão

A cidade de Nictheroy distingue-se mais pelo pitoresco das cenas da natureza do que pelo cunho que lhe há impresso a mão do homem: a beira da baía que lhe da nome borda-se de cais, com seus vergéis e casas em anfiteatro aformoseadas por gradis ornados de flores, tendo da parte do norte a baía de São Lourenço de Maruhy com seus mangues que se estendem interceptados por numerosas ilhas até São Gonçalo: do lado do sul alvejam as belas praias do Fumo, Vermelha, da Boa Viagem, das Flechas, de Icarahy, Saco de São Francisco e Jurujuba; da parte do oriente se elevam os mais românticos montes encadeados uns após outros e revestidos da verdura de pequenos arbustos e de restos de florestas que outrora as cobriam pomposamente.

As ruas da cidade são calçadas, bordados os passeios de lajeado e as casas bem edificadas e de bonita aparência. Os edifícios mais notáveis, além das igrejas e capelas que foram mencionadas, são o quartel do corpo policial, que veste a frente oriental da Praça da Victoria, a casa da tesouraria provincial, antigo palacete de D. Pedro I, e o paço municipal, onde se reúne a assembleia provincial. O palacete da presidência, e a casa onde funciona a Câmara Municipal e o Júri são propriedades particulares.

A cadeia existe num dos antigos armazéns da armação das baleias, porém para os presos não sentenciados é a casa de detenção, concluída há poucos anos na praça do Chafariz.

O teatro é pequeno; tem o titulo de Santa Theresa em honra a S. M. a Imperatriz e conta apenas duas ordens de camarotes, e nele representa a companhia do Teatro São Pedro de Alcântara, tendo por empresário o Sr. João Caetano dos Santos, que é obrigado a dar uma representação semanal.

(*) Esta descrição é extraída resumidamente dos apontamentos ainda informes que para a Corografia Fluminense reúne há anos o Sr. Joaquim Norberto de Sousa Silva - que assinava na imprensa Norberto S. S. -, que nos fez o obséquio de comunica-los; obra por certo monumental pelas proporções gigantescas que toma todos os dias pelos documentos oficiais que tem à sua disposição, e o auxílio de pessoas profissionais, esperando o autor dar-lhe a última demão depois de percorrer a província corrigindo os seus manuscritos à vista dos lugares que pretende visitar e imprimindo-lhe assim a cor local.

(**) Nictheroy era o nome primitivo da baía do Rio de Janeiro, e Guanabara do lugar onde está assentada a Capital do Império, entretanto estão chamando hoje irrefletidamente a baía de "baía de Guanabara".


Repartições e Edifícios Públicos

Palácio da Presidência, largo Municipal, esquina da rua da Rainha.

Paço da Assembleia Provincial, largo Municipal, entre as ruas de São João e de São Pedro.

Secretaria do Governo, no Palácio da Presidência.

Tesouraria Provincial, rua do Imperador, esquina da d'El-Rei.

Secretaria da Polícia, rua da Praia, n. 114.

Empréstimo Provincial, na Tesouraria.

Aulas maiores de instrução secundária, no edifício do extinto Liceu Provincial, rua do Imperador.

Inspetoria geral das escolas de instrução primaria, no mesmo edifício.

Arquivo das Obras públicas, no Palácio da Presidência.

Arquivo Estadístico da Província, no edifício do extinto Liceu Provincial.

Coletoria das Rendas Gerais, rua do Imperador, por baixo da Tesouraria.

Coletoria das Rendas Provinciais, na mesma rua por baixo também da Tesouraria.

Inspetoria Municipal das mesmas, na rua d'El-Rei.

Inspetoria Paroquial das mesmas, na mesma rua, n. 10.

Correio, Praça de Santo Alexandre, n. 62.

Depósito Público, rua d'El-Rei, n. 50.

Paço Municipal, onde celebra a Câmara e o Júri as suas sessões e dão as autoridades audiências; rua da Praia, 117, esquina da rua de São João.

Cadeia, no largo da Armação.

Casa de Detenção da Província, no fim da rua de São João, à direita, com frente para a praça do Chafariz.

Quartel do Corpo Policial, em frente à praça da Victoria, no seguimento da rua do Príncipe.

Theatro de Santa Theresa, rua da Imperatriz.

Matadouro, deve ser construído no mangue de São Lourenço, em frente à rua do Príncipe.

Igrejas

São João Batista, Matriz, no largo Municipal.

São Lourenço, Freguesia (antiga aldeia de índios), no morro do mesmo nome.

Nossa Senhora da Conceição (Confraria), no morro, à direita da mesma rua.

São Domingos, na rua da Praia de São Domingos.

Santa Anna (capela), sobre a eminência do mesmo nome.

Nossa Senhora da Boa Viagem (capela), no forte do mesmo nome.

Nossa Senhora da Conceição (capela), no largo da Cadeia, na Armação,

São Pedro (capela), no cemitério público de Maruhy.

Cemitérios

Cemitério Público, em Maruhy, no fim da rua de Santa Anna.

Cemitério da Conceição, na Igreja do mesmo nome

Cemitério de Icarahy, na Igreja do Rosário

Cais de desembarque

Além das praias em geral, e do que se deve construir em torno da praia, da Armação ao Carauatá.

Cais junto à Armação (em obra).

Cais 1º das Barcas, em frente à rua do Imperador (construído).

Cais 1º das Faldas, em frente à praça de Martim Affonso.

Cais 2º das Barcas, junto ao morro de João Homem, em São Domingos (construído).

Cais 2º das Faluas, em frente ao largo do Palacete, em São Domingos.

Cais, que se deve construir em frente à rua Fresca, em São Domingos.

Cais da rua do Príncipe, sobre o mangue da baía de São Lourenço, com desembarque na Ponta d'Areia.

Cais da Ponta d'Areia, sobre o mar em frente às ilhas do Macanguê, Santa Cruz, Cachimbau, Conceição, e Caju, na rua do mesmo nome, com desembarque no estaleiro do Sr. Irineu.

Cais de São Lourenço, no largo do Chafariz (em obra).

Cais do Meyer, em Santa Anna.

Cais de Santa Anna, no porto do mesmo nome.

Cais de Icarahy, dois que se devem construir: um no princípio e outro no fim da praia (parte somente construído).

Logradouros

Na parte mais saliente do morro da Armação, principiando no canto da praia até destorcer com a rua de São Carlos, ficando entre ele e a praia um porto. (tudo em projeto). Outro que se há de formar sobre o mangue de São Lourenço, em frente as ruas de São Januário e São Carlos.

Ruas

São Domingos, compreende desde o Cabaceiro até a praia das Flechas.
Cidade Nova, da praia de Icarahy ao morro do Cavalão.

Rua da Aclamação, segunda rua paralela à da Constituição, na Cidade Nova (por abrir).

Rua Adicional, décima paralela à da Constituição, na Cidade Nova (por abrir).

Rua Angular, principia na rua do Príncipe e finaliza na praça de Santo Alexandre, na esquina da rua da Conceição.

Rua da Armação, principia no largo da Cadeia, e finaliza na esquina do Militão, antiga casa do Lacombe, na rua da Praia.

Rua Aurea, principia na rua do Ingá, em São Domingos, e finaliza na praia das Flechas; tendo à direita a rua da Fonte.

Rua Aureliana, principia na rua da Praia, e finaliza na Diamantina.

Rua de Baixo, principia no largo de São Domingos, e finaliza na Igreja de São Domingos.

Rua dos Banhos, principia na rua Fresca, e finaliza na praia Vermelha, continuando com o mesmo nome pela frente da praia (por abrir).

Rua do Barros, sexta paralela à da praia de Icarahy, na Cidade Nova (por abrir).

Rua da Boa Viagem, principia na rua do Ingá, perto da da Fonte, e finaliza na praia; continuando com o mesmo nome na frente da praia até a das Flechas.

Rua Brasília, nona paralela à da praia de Icarahy, na Cidade Nova (por abrir).

Rua do Cabaceiro, principia no fim da rua da Praia Grande, junto ao mirante da chácara da Câmara Municipal, e finaliza na Pampulha, tendo em frente o cais deste nome.

Rua de Cabral, segunda paralela à da Praia de Icarahy, na Cidade Nova (tem parte por abrir-se).

Rua da Calçada de Santa Anna, a que vai da Igreja ao porto.

Rua do Calimbá (outrora travessa de São Lourenço), em seguimento ao rio de mesmo nome até Santa Rosa, principiando na rua Diamantina e terminando no Cubango.

Rua do Carauatá, principia na rua Fresca, em continuação à da Praia de São Domingos, e finaliza na do Forte.

Rua das Chagas, principia na rua da Praia, e finaliza na do Mangue (em projeto), sendo cruzada pelas ruas d'El-Rei, Rainha, Príncipe e Princesa. Rua de Cima, principia no Cabaceiro, cortando o largo de São Domingos, e finalizando na rua Fresca: tem à direita os becos de São Domingos e o do Corrêa, e a travessa do Rosário.

Rua (Caminho) de Cima, principia no largo da Engenhoca, e termina no do Barreto.

Rua da Conceição, principia na praça de Martim Affonso, e finaliza na rua Diamantina; sendo cruzada pelas ruas d'El-Rei, Rainha e Príncipe; tendo à esquerda a ruas da Princesa e Angular, à direita a praça de Santo Alexandre, e no centro o largo da Conceição, em frente a capela da confraria de N. S. da Conceição.

Rua da Constituição, principia no largo da Igreja de Icarahy, na Cidade Nova, e finaliza no princípio da Praia de Icarahy (por abrir).

Rua do Corrêa, oitava paralela à da Praia de Icarahy, na cidade nova (por abrir).

Rua do Cruzeiro, sétima paralela à da Constituição, na Cidade Nova (por abrir).

Rua Diamantina (outrora travessa de São Lourenço), principia no largo do Chafariz, e finaliza em Icarahy.

Rua d'El-Rei, principia na rua de São Carlos, mas deve principiar na de São Januário (por abrir), e finaliza na Nova de São Domingos; sendo cruzada pelas ruas da Glória, São Francisco, Chagas, Imperador, São João, São Pedro, Aureliana, Conceição, São José, São Leopoldo e Imperatriz: cortando a praça Municipal e o largo da Memória.

Rua do Estácio, quinta paralela à da Praia de Icarahy, na Cidade Nova (por abrir).

Rua das Estrelas, oitava paralela à da Constituição, na Cidade Nova (por abrir).

Rua das Flechas (na praia das Flechas) desde a rua da Magnificência, cortando a Itapuca, até a rua da Constituição, na praia de Icarahy.

Rua do Fonseca, principia à direita da rua de Santa Anna, e termina no campo do Fonseca.

Rua da Fonte, principia na rua da Boa Viagem, e finaliza na Aurea; cruzando-a as ruas da Magnificência e Formosa, e tendo à esquerda a de São Luiz.

Rua Formosa, principia na rua do Ingá, e finaliza na praia das Flechas; cruzando-a a rua da Fonte.

Rua do Forte (em projeto), deve principiar na rua do Carauatá, em São Domingos, e abrir comunicação com a praia do Fumo, ao lado do Forte, entre os dois últimos morros.

Rua Fresca, principia na rua da Praia de São Domingos, e finaliza na dos Banhos; tendo à esquerda a rua de Cima.

Rua do Fundador, quarta paralela à da Constituição, na Cidade Cova (por abrir).

Rua da Glória, principia na rua da Praia, cruzando as ruas d'El-Rei, Rainha, e do Príncipe, e a Praça da Victoria, vai finalizar na baía de São Lourenço, na rua do Mangue (em projeto).

Rua do Imperador (conhecida mais vulgarmente por da Ponte das Barcas), principia na rua da Praia, em frente à ponte das barcas, e seguindo o aterro que se está fazendo sobre o mangue com 200 braças de cais, vai finalizar no largo do Chafariz; sendo cruzada pelas ruas d'El-Rei, Rainha, Príncipe, Princesa e Mangue (em projeto).

Rua da Imperatriz (conhecida mais vulgarmente por do Theatro), principia na rua da Praia, e desemboca no largo da Memória, tendo à esquerda o teatro de Santa Theresa.

Rua da Independência, principia no largo da Igreja de Icarahy, na Cidade Nova, e finaliza na praia de Icarahy.

Rua do Ingá, principia no largo do Palacete, em São Domingos, e finaliza em Icarahy; faltando abrir-se a parte compreendida entre a rua Aurea (no Ingá) e a da Constituição (em Icarahy). Tem à direita as ruas da Boa Viagem, de São Luiz, da Magnificência, Formosa e Áurea, e á esquerda a Nova de São Domingos.

Rua dos Legisladores, sexta paralela à da Constituição, na Cidade Nova (por abrir).

Rua da Magnificência, principia na rua do Ingá, e finaliza na praia das Flechas, cruzando-a a rua da Fonte.

Rua do Mangue (projetada), deve beirar a baía de São Lourenço do lado oeste desde à rua da Gloria até a do Imperador, a encontrar o cais em construção, com 225 braças de comprido sobre 6 de largo.

Rua (Caminho) da Maré, principia no largo do Barradas, e termina no cemitério de Maruhy.

Rua de Martim Affonso, principia no largo do Chafariz, e termina, passando pela Igreja de São Lourenço, no largo da Ponte; tendo à esquerda a travessa do Indígena.

Rua de Mendo de Sá, quarta paralela à da Praia de Icarahy, na Cidade Nova (por abrir).

Rua Nova de São Domingos, principia no fim da rua da Rainha (no largo da Memória), e finaliza na rua do Ingá, em São Domingos; tendo à direita as rua d'El-rei e de São Braz, e à esquerda principiam o beco e a rua de São Sebastião.

Rua da Pampulha, principia no fim da do Cabaceiro, e finaliza no largo do Palacete, em São Domingos; tendo á direita a ponte das barcas de São Domingos e o cais e arvoredo de seu nome.

Rua da Ponta d'Areia (aberta em parte), na Armação; principiando no largo da Cadeia, pelo lado do norte, e finalizando na mesma Ponta d'Areia. Deve ter 410 braças de comprido sobre 6 de largo; é bordada por um cais com desembarque junto à fabrica de fundição e estaleiro do Sr. Irineu, e rampa no lugar onde o mar forma a Ponta d'Areia.

Rua da Praia Grande, principia na rua de São Januário, e finaliza no mirante da Chácara da Câmara, outrora de Miguel Joaquim Brum, no Cabaceiro; tendo à direita o mar e a ponte das Barcas, e à esquerda as ruas de São Carlos, Glória, São Francisco, Chagas, Imperador, São João, São Pedro, Aureliana, a praça de Martim Affonso, as ruas da Conceição, São José, São Leopoldo e Imperatriz.

Rua da Praia de Icarahy, começa no morro de Itapuca, e beirando o mar, sobre a praia do mesmo nome, vai acabar na ponta do morro do Cavalão, na Cidade Nova.

Rua da Praia de São Domingos, principia no desembarque das faluas, em frente ao largo de São Domingos, e finaliza na rua Fresca; tendo à direita o cais, e à esquerda a igreja de S. Domingos, a travessa do Rosário, e os becos de São Domingos e do Corrêa.

Rua da Princesa (aberta em parte), deve principiar na rua de São Januário, mas começa na da Glória, e finaliza na da Conceição; cruzando-a as ruas de São Francisco, Chagas, Imperador, São João, São Pedro e Aureliana.

Rua do Príncipe, principia na rua da Ponta d'Areia, e finaliza no largo da Conceição, mas deve continuar pelo morro até a de São Sebastião; sendo cruzada pelas ruas de São Januário (por abrir), São Carlos, Glória, São Francisco, Chagas, Imperador, São João, São Pedro e Aureliana, ficando-lhe à direita o largo Municipal, e cortando a praça da Victoria.

Rua da Rainha (aberta em parte), deve principiar na rua de São Januário, e finalizar na Nova de São Domingos, cortando as praças da Victoria e de Santo Alexandre e o largo da Memória, e cruzando as ruas de São Carlos, da Glória, São Francisco, Chagas, Imperador, São João, São Pedro, Aureliana e Conceição.

Rua do Reconhecimento, nona paralela à da Constituição, na Cidade Nova (por abrir).

Rua da Regeneração, quinta paralela à da Constituição, na Cidade Nova (por abrir).

Rua da Sagração, terceira paralela à da Constituição, na Cidade Nova (por abrir).

Rua de Santa Anna, principia no largo da Ponte, e finaliza no do Barradas; principiando, à esquerda, a travessa de Santa Anna, e à direita, a rua do Fonseca.

Rua de Santa Bibiana, última junto ao morro do Cavalão, na Cidade Nova (por abrir).

Rua de Santa Rosa, a que vai da rua de Santa Bibiana à frente do distrito de Santa Rosa (por abrir).

Rua de Santa Theresa, veja rua da Imperatriz.

Rua de São Braz, principia no Cabaceiro, e finaliza na rua Nova de São Domingos.

Rua de São Carlos, principia na rua da Praia, e finaliza saindo ao Mangue, cruzando-a as ruas d'El-Rei, Rainha e Príncipe.

Rua de São Domingos, veja rua Nova e rua da Praia de São Domingos.

Rua de São Francisco, principia na rua da Praia, e finaliza na rua do Mangue (em projeto), cruzando-a as ruas d'El Rei, Rainha, Príncipe e Princesa.

Rua de São Januário (por abrir), deve começar na esquina do morro da Armação, e seguir pela chácara dos herdeiros de José Manoel, da rua da Praia a sair o Mangue, atravessando as d'El-Rei, Rainha e Príncipe, com 230 braças de comprido e 60 palmos de largo.

Rua de São João, principia na rua da Praia, e finaliza na Diamantina, cortando o largo do Chafariz; sendo cruzada pelas ruas d'El-Rei, Rainha, Príncipe, Princesa e o rio dos Passarinhos; tendo à direita o largo Municipal, a pedreira e a casa de detenção, e à esquerda a serraria de vapor do capitão José Duarte Galvão e o largo do Chafariz.

Rua de São Joaquim, a que se deve aterrar sobre o mangue, do largo da Ponte ao porto de Santa Anna.

Rua de São José (outrora da Cadeia Velha), principia na rua da Praia, e finaliza na praça de Santo Alexandre; cruzando-a a rua d'El-Rei, e tendo à direita a travessa do Pelourinho.

Rua de São Leopoldo (outrora do Vasco), principia na rua da Praia, e finaliza no largo da Memória; cruzando-a a rua d'El-Rei.

Rua de São Lourenço, principia no largo do Chafariz, e finaliza no da Ponte; tendo à direita a rua de Martim Affonso e a travessa do Indígena.

Rua de São Luiz, entre a do Ingá e a da Fonte, projetada a ir sair na rua do Cabaceiro, em virtude de uma ordem do governo (de 24 de Junho de 1853).

Rua de São Pedro, principia na rua da Praia, e finaliza na Diamantina, cortando, à esquerda, a praça Municipal: é cruzada pelas ruas d'El-Rei, Rainha, Príncipe e Princesa e o rio dos Passarinhos.

Rua de São Sebastião, principia na rua Nova de São Domingos, e finaliza na do Ingá; tendo à esquerda a travessa de São Sebastião, que se há de abrir até encontrar a rua do Príncipe, com 200 braças de comprimento (não se pode transitar, em consequência da escavação que se está fazendo pelo corte do morro que atravessa). Deve começar na rua da Praia Grande, cortando-se o morro de Dona Helena, hoje do Capitão-mor.

Rua do Souza, primeira paralela à da Praia de Icarahy, na cidade nova, principia na rua da Constituição, e finaliza no morro do Cavalão.

Rua da Vera-Cruz, primeira paralela à da Praia de Icarahy, na cidade nova. Somente parte é que está aberta.

Rua da Vicência, da ponte de pedra (no largo da Ponte), pela margem do rio da Vicência, até ao campo do Fonseca (por abrir).

Travessas

Travessa do Calimbá, principia na rua do Calimbá, e finaliza no largo da Igreja de Icarahy.

Travessa da Conceição, principia na rua da Conceição, e finaliza na do Príncipe.

Travessa do Indígena, principia na rua de São Lourenço, e finaliza na de Martim Affonso.

Travessa do Pelourinho, da praça de Santo Alexandre ao largo da Memoria.

Travessa do Rosário, principia na rua da Praia de São Domingos, e há de finalizar ao lado da Igreja do Rosario, em Icarahy, da parte do norte, cruzando a rua de Cima. (Em parte aberta).

Travessa de Santa Anna, a que vai da esquerda da rua de Santa Anna até à Igreja.

Travessa de São Sebastião, principia na rua de São Sebastião, e finaliza na rua do Príncipe. (projetada, somente).

Becos

Beco do Corrêa, principia na rua da Praia de São Domingos, e finaliza na rua de Cima.

Beco de São Domingos, principia na rua da Praia de São Domingos, ao lado da Igreja, e finaliza na rua de Cima.

Beco de São Sebastião, principia na rua Nova de São Domingos, e finaliza na rua de São Sebastião.

Largos

Largo do Barradas, no fim da rua de Santa Anna.

Largo do Barreto, adiante de Santa Anna. À direita deste largo há um caminho para as Sete Pontes, e à esquerda outro para a praia das Neves, os quais vão ter à Freguesia de São Gonçalo.

Largo da Cadeia, na Armação.

Largo do Chafariz, no fim da rua de São João, em frente à casa de Detenção; principiando as ruas Diamantina, de Martim Affonso e a de São Lourenço.

Largo da Conceição, no centro da rua da Conceição, em frente á Igreja do mesmo nome.

Largo da Engenhoca, em Santa Anna.

Largo da Memória, compreendido pelas ruas de São Leopoldo e da Imperatriz: tendo à esquerda a travessa do Pelourinho, que o comunica com a Praça de Santo Alexandre; e na frente tem princípio a rua Nova de São Domingos.

Largo do Palacete, em São Domingos, em frente ao desembarque das faluas; principiando, na frente, a rua do Ingá; à direita as ruas de Baixo e de Cima; e à esquerda vem findar a rua do Cabaceiro.

Largo da Ponte, no fim da rua de São Lourenço, junto à ponte de pedra: principiando as ruas da Vicência e a de São Joaquim.

Largo de São Domingos, veja largo do Palacete.

Praças

Praça de Martim Affonso, na rua da Praia, no princípio da rua da Conceição.

Praça do Mercado, se há de aterrar sobre o mar, na rua da Praia, da frente da rua da Conceição até o mirante do Brum.

Praça Municipal, entre as ruas de São João e São Pedro, ficando pelos fundos da Matriz de São João Batista, a rua do Príncipe, e do lado direito da mesma Matriz o palácio da presidência, e em frente desta o paço da Assembleia Provincial; cruzando-o as ruas d'El-Rei e da Rainha.

Praça de Santo Alexandre, compreendida pelas ruas da Conceição e de São José; tendo à direita a travessa do Pelourinho, e à esquerda finaliza a rua Angular; cortando-o a rua da Rainha.

Praça ou Campo de São Bento, grande praça no centro da Cidade Nova, em terras do Mosteiro de São Bento (em Icarahy), parte já formada: é cortada pelo rio Calimbá.

Praça da Victoria, na rua do Príncipe, em frente ao novo quartel do corpo policial; compreendido pelas ruas da Glória, Rainha e Príncipe. Apesar de não ter ainda a Câmara Municipal denominado esta praça, ela já é conhecida por este nome, em memória da vitória que ali obteve em batalha contra os Franceses e Tamoios de Cabo Frio, o intrépido Martim Affonso de Souza.


Publicado originalmente no Almanaque Administratico, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro - 1854/55

Pesquisa e Edição de Alexandre Porto

Joaquim Norberto de Sousa Silva (Rio de Janeiro, 6 de junho de 1820 – Niterói, 14 de maio de 1891) foi um escritor e historiador brasileiro do período romântico, mais conhecido por sua obra de 1861, 'Brasileiras Célebres', que assinou como J. Norberto de S. S. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), entidade que presidiu de 1886 até sua morte.



Publicado em 20/05/2022









Notícia histórica da cidade de Nictheroy em 1922
Nictheroy - Teatros e Clubes
Nictheroy: Ponta da Armação


aaaaaa

Com formação em Engenharia Florestal, eu, Alexandre Porto, já fui produtor orgânico de alimentos e apicultor, mas hoje ganho a vida como escriba (Enciclopaedia Britannica do Brasil, Fundação de Arte de Niterói). Há 20 anos me dedico a pesquisar a História de Niterói, minha cidade natal, do Vasco, meu incompreendido time de futebol, e da Música Popular Brasileira, minha cachaça. Por 15 anos mantive uma pioneira rádio online no Brasil, a "Radinha". Pra quem quiser me encontrar nas redes, seguem os links:
Facebook e Twitter