Contemplando-se do alto da mais alta colina que domina Nictheroy - o morro de São Lourenço, outrora dos caboclos - o báratro de caliça, de pedra, madeira, metal e águas, dentro do qual vivem, sofrem e morrem cinquenta mil criaturas humanas atualmente, observando-se filosoficamente esta colmeia gigantesca donde se eleva um sussurro confuso de alegria e de dor, o nosso pensamento, voltando-se para a infância e para o berço de nossa terra, procura adivinhar o que foram as existências passadas, os edifÃcios e outros progressos da indústria humana ora extintos.
Mas a história, as tradições e lendas são escassas de cabedais minuciosas, de modo que os cronologistas da velha aldeia sentem-se vulneráveis quando enfrentam com o descrevê-la.
Não temos nenhum mapa, planta alguma de Nictheroy de 1600.
Se os traços quase desbotados da origem dela excitam o nosso interesse, quanto prazer e orgulho terÃamos em comparar a sua infância com a sua adolescência de hoje.
Qual o aspecto que deviam apresentar a baÃa, o litoral, as terras de Nictheroy do Arariboia?
É harmônica a opinião dos geólogos sobre a elevação gradual de algumas costas, ou seja, o recuo do mar em certas praias, devido a ação lenta, mas continua, das forças vulcânicas em atividade no interior do globo.
Este facto tem sido observado em todo nosso litoral.
O dr. Capanema denunciou, há anos, que em penedos de nossas praias a considerável altura do mar, existem escavações formadas outrora pelos ouriços marinhos.
São ainda visÃveis e de nossos dias outras provas deste fenômeno que aos poucos foi descobrindo a terra que Arariboia aldeou em 1570 e Clemente Pereira governou em 1819.
Vejamos. As lagoas Piratininga e de Itaipu são hoje inteiramente separadas.
Não há muitos anos as suas águas se ligavam por meio de um riacho a que denominam - Camboatá, o qual alagara larga faixa de terrenos restingosos. A denominação de Camboatá do rio parece aludir à existência de muitos peixes deste nome que tanto vivem n'água como em terra.
Outro fenômeno de recuo das águas vê-se ainda hoje na enseada de Jurujuba, num trecho de terras denominado Ponta da Ilha.
Mais para o sul ergue-se a pedra de Itapuca, tapira do que foi. Se Arariboia, hoje vivo, enfrentasse com esta penedia isolada na praia, a denominaria não "pedra assentada", mas Itaburi - frade de pedra - pela semelhança atual dela com um frade de capuz. Na entanto, seu primitivo apelido exprimia a verdade.
Era uma penedia que, erguendo-se do mar, debruçava-se como um arco-Ãris e vinha pousar à outra extremidade na encosta do morro que lhe faz frente.
Em 1816 quando D. João VI visitou pela primeira vez a Praia Grande, aquele largo era tão curto que não pode ser escolhido para a cerimônia futura da criação da Vila.
O atual primeiro distrito era uma restinga a começar da rua do PrÃncipe (atual Barão do Amazonas) onde chegava o mar. Esta restinga dividia a praia do Saco de São Lourenço.
Semelhante ao "Monte de Ouro", em nossos dias alcançamos, pontuando o perÃmetro da rua de São João à de São Carlos (hoje Silva Jardim), diversas dunas que já não existem hoje.
O maior era no largo do Quartel e outro havia na esquina da rua de São Francisco (hoje Saldanha Marinho) entre a Visconde de Sepetiba e Barão do Amazonas.
Diversos morros foram cortados de meio a meio, outros tiveram as encostas desobstruÃdas e alguns desapareceram para dar lugar ao avançamento e nivelamento de ruas.
Com formação em Engenharia Florestal, eu, Alexandre Porto, já fui produtor orgânico de alimentos e apicultor, mas hoje ganho a vida como escriba (Enciclopaedia Britannica do Brasil, Fundação de Arte de Niterói). Há 20 anos me dedico a pesquisar a História de Niterói, minha cidade natal, do Vasco, meu incompreendido time de futebol, e da Música Popular Brasileira, minha cachaça. Por 15 anos mantive uma pioneira rádio online no Brasil, a "Radinha". Pra quem quiser me encontrar nas redes, seguem os links: Facebook
e Twitter