Alexandre Porto
REMINISCÊNCIAS DE FRÓES: A MORTE DO GRANDE ARTISTA



Artigo de Sindulfo Santiago
Revista Guanabara Fluminense, novembro de 1955

Leopoldo Fróes era extremamente supersticioso. Os camarins nº 1 em geral são os melhores dos teatros, sendo sempre ocupados pelas primeiras figuras dos elencos. Fróes jamais ocupou o "camarim nº 1", acreditava ser de mau agouro. Tendo nascido e passado toda a sua juventude em Niterói, cidade cercada de belas praias, nunca tomou banho de mar. Talvez por superstição, pois dizia ele ter a impressão que se mergulhasse na água salgada nunca mais retornaria à terra.

Outra forte superstição de Fróes era com a ópera "Tosca". Não permitia que as orquestras dos teatros em que trabalhava tocassem qualquer trecho da famosa ópera. Quando Dolores Bertini morreu na cidade de Recife, onde sua Cia. estava atuando, alguém tocava num piano do prédio vizinho a ária de despedida de Mario Cavaradossi. Nunca se soube se a superstição de Fróes contra a "Tosca" cresceu após aquele fato, ou se anteriormente ele já a tinha. Era impressionante a convicção de Fróes quanto às possíveis desgraças que poderia lhe atrair a ópera famosa.

A última companhia de Fróes

Na última Companhia que Fróes formou, trabalharam Brunilde Judice, Lygia Sarmento, Pepita de Abreu, Clotilde Duarte, Lucia Mariani, Cordelia Ferreira, Antonio Ramos, Placido Ferreira, Caetano Junior e José de Almeida.

Uma das preocupações de Leopoldo Fróes foi sempre a de formar suas Companhias teatrais com elementos de talento. Valores novos e nomes já consagrados trabalhavam ao seu lado, dando ele por vezes papéis do maior destaque a artistas de renome. Nunca receou ser ofuscado em sua arte. Muitos artistas se cercam de mediocridades ou de artistas talentosos mas ainda sem cartaz, para poderem melhor aparecer. Fróes fazia justamente o inverso, suas Companhias se apresentavam sempre com o que havia de melhor em material humano.

E ele conseguia sempre o maior destaque entre os grandes valores que apresentava. Ao seu lado trabalharam os maiores nomes do teatro brasileiro e português. Entre inúmeros podem ser destacados: Chaby Pinheiro, Brunilde Judice, Iracema de Alencar, Carmem de Azevedo, Auzenda de Oliveira, Atila de Morais, Dulcina de Morais, Lygia Sarmento, Jayme Costa, Amada Fonfreda, Belmira de Almeida, Teixeira Pinto, Manoel Durães, Armando Rosas, Placido Ferreira, Sylvia Bertini e Lucilia Peres.

Fortuna de Leopoldo Fróes

Não obstante os gastos que fazia com sua vida de boêmio elegante, Fróes conseguiu acumular uma regular fortuna. Isto pode ser considerado uma exceção, pois no comum os atores morrem pobres. A sua herança foi avalia da em cerca de dois mil contos que, na época, representava considerável valor.

Os últimos anos de sua vida

Os derradeiros anos da vida de Fróes se dividiram entre Paris, Lisboa e Rio. Ele era um enamorado de Paris tendo sido convidado em várias oportunidades para trabalhar no teatro francês. André Brulé, o grande comediante o convidou para atuar no Ambigú em uma peça de Maurice Rostand. Fróes recusou sempre tais convites por não querer se afastar do teatro brasileiro por muito tempo.

O último trabalho artístico de Fróes foi o filme "Minha Noite de Nupcias", posado no estúdio da Paramount, em Paris, com Beatriz Costa, Estevam Amarante e Geniveve Felix.

Foi em Paris que ele contraiu doença que o vitimou.

A morte de Leopoldo Fróes


Do berço, nesta casa na rua Saldanha Marinho, ao túmulo, uma vida toda de glória.


E esta reportagem que começou a beira de um túmulo, no Cemitério do Maruí, de Niterói, termina onde começou...

Aquele que foi o maior ator brasileiro de todos os tempos, morreu em Davos Platz, na Suíça, para onde se havia transportado em busca de cura para a terrível enfermidade que o atacara. Seu corpo veio para o Brasil e seu sepultamento foi realizado no Cemitério do Maruí, em Niterói. Antes, o corpo foi velado por uma verdadeira multidão na Matriz de São João Batista, que tocou em finados o mesmo sino que Fróes em menino ouviu muitas vezes num badalar festivo, cuja recordação descreve com tanta saudade numa comovente carta que escreveu à sua irmã Corina Fróes.

Quase toda a população de Niterói acompanhou, a pé, o féretro de Fróes. A banda de música da Polícia Militar do Estado tocou em ritmo de marcha fúnebre a popular canção "Mimosa", de sua autoria que o Brasil inteiro cantou com emoção durante alguns anos.

Ainda hoje Leopoldo Fróes é lembrado pelos homens e mulheres de cabelos prateados pelo correr dos anos que não esquecem a figura magnifica do grande astro dos palcos brasileiros.

Quando ele morreu, "A Noite Ilustrada" de 9 de Março de 1932, publicou em sua capa o retrato de Fróes e uma reportagem interna, de onde, aliás colhi alguns elementos para esta série de reportagens, tendo como título estas expressivas legendas: "Um criador de almas e emoções" - "Desaparece o maior ator do Brasil contemporâneo".

É difícil a tarefa de escrever uma série de reportagens sobre a vida de uma personalidade artística tão alta. Procurei desincumbir-me da melhor maneira possível. Foi de grande valia a colaboração das Sras. Corina Fróes, Iris Fróes e Gioconda Fróes, irmã, sobrinha e sobrinha neta do saudoso artista, que colocaram à minha disposição todos os seus arquivos de documentos e fotografias. Muito agradeço a essas ilustres damas tão preciosa cooperação.

Com o pensamento cheio de recordações, lembranças vivas, que busco colher num passado longínquo, vejo a figura inesquecível de Leopoldo Fróes uma voz bonita de seresteiro cantando: no palco do velho "Trianon" e ouço:

Mimosa, tão delicada e melindrosa,
Mimosa, Mimosa!
Mimosa! Deus que te fez assim formosa,
Deu-te o perfume de uma rosa!
Mimosa, Mimosa!


E caiu o pano no último ato desta reportagem que começou no Cemitério do Maruí, ao pé da sepultura de Leopoldo Fróes, no dia 23 de Agosto de 1955, quando fiz uma oração à beira do seu túmulo.

Fotos de Joaquim Simões e Arquivos da família Fróes da Cruz
Pesquisa e edição de Alexandre Porto

Série Reminiscências de Fróes

Reminiscências de Fróes: Uma homenagem a Leopoldo
Reminiscências de Fróes: Sob o signo de um Astro Vagabundo
Reminiscências de Fróes: Ele superou João Caetano
Reminiscências de Fróes: Mulheres e amores de sua vida
Reminiscências de Fróes: A morte do grande artista



Publicado em 09/12/2021









Dmitri (1905-1989)
Reminiscências de Fróes: Uma homenagem ao nosso maior ator
Leopoldo Fróes (1882-1932)


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Com formação em Engenharia Florestal, eu, Alexandre Porto, já fui produtor orgânico de alimentos e apicultor, mas hoje ganho a vida como escriba (Enciclopaedia Britannica do Brasil, Fundação de Arte de Niterói). Há 20 anos me dedico a pesquisar a História de Niterói, minha cidade natal, do Vasco, meu incompreendido time de futebol, e da Música Popular Brasileira, minha cachaça. Por 15 anos mantive uma pioneira rádio online no Brasil, a "Radinha". Pra quem quiser me encontrar nas redes, seguem os links:
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